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Janeiro Roxo: Conscientização sobre a Hanseníase

Publicado em: 08/01/2021
Janeiro Roxo: Conscientização sobre a Hanseníase

A hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade, porém, apesar de considerada rara, até os dias de hoje representa um problema de Saúde Pública no Brasil. Por este motivo janeiro foi eleito o mês da Campanha Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, oficializada pelo Ministério da Saúde no ano de 2016.

Quando não tratada, a doença pode levar a evoluções graves, como deformidades e incapacidades físicas, o diagnóstico e tratamento precoce são extremamente importantes para evitar essas complicações e quebrar a cadeia de transmissão, pois após iniciado o tratamento,a hanseníase não é transmitida.

O DB, nosso Laboratório de APOIO, possui em seu portfólio exames anatomopatológicos, moleculares e de imuno-histoquímica para o diagnóstico da hanseníase.

 

HANSENÍASE

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica que acomete a pele, olhos, trato respiratório superior e sistema nervoso periférico. Pelas lesões físicas e neurológicas que pode causar, há muito preconceito e discriminação para com os acometidos desde os tempos mais antigos, quando ainda era denominada lepra. A fim de minimizar esse estigma criado desde os primeiros relatos da doença, o Ministério da Saúde adotou o termo “hanseníase” e de acordo com a lei 9.010, de 29 de março de 1995, a denominação “lepra” não pode ser utilizada em documentos oficiais no Brasil.

 

Epidemiologia

O Brasil é o segundo país com maior incidência de casos, atrás apenas da Índia. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018 foram reportados 28.660 novos casos no Brasil, equivalendo a 92,6% do total das Américas, a incidência mundial foi de 208.619 casos neste mesmo ano. Apesar dos dados ainda serem preocupantes, a incidência vem diminuindo ano a ano, registros de 2019 indicaram 23.612 novos casos no país.

Por seu grau de importância como um grande problema de Saúde Pública, a notificação da doença é compulsória e sua investigação obrigatória em território nacional, desta maneira os profissionais de saúde devem, obrigatoriamente, reportar os casos do agravo no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

 

Etiologia e Fatores de risco

A hanseníase é causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, por meio de secreções nasais ou gotículas de saliva de pessoas na forma infectante da doença (multibacilar). Apesar da capacidade de infectar um grande número de pessoas, geralmente o M. leprae é combatido pelo sistema imune do indivíduo, desta forma a maioria das pessoas expostas não adoecem (cerca de 90% dos casos).Os doentes com poucos bacilos, paucibacilares, por possuírem uma baixa carga bacteriana não são considerados como fonte de infecção.

O M. leprae possui um período de incubação longo, podendo levar anos para que a pessoa comece a manifestar sintomas. O desenvolvimento da doença ocorre de acordo com a resposta imunológica do hospedeiroe após um longo período de exposição ao agente, havendo seis formas de manifestação devido à variação da resposta imunológica entre as pessoas. De um modo geral, a partir do momento que um indivíduo adoece, se o sistema imune for competente, a hanseníase se manifesta de forma localizada e não contagiosa, mas quando não há uma resposta imunológica efetiva, se manifesta de maneira mais grave e transmissível.

Como demonstrado em um estudo da FIOCRUZ, de 2016, a bactéria é capaz de mimetizar uma infecção viral, de modo a causar uma resposta imunológica “equivocada” e ineficaz. A produção da citocina Interferon 1 ocasiona a ativação de alguns genes que favorecem a invasão celular e ocupação da bactéria na célula.

A hanseníase pode acometer pessoas de ambos os sexos e de qualquer raça, porém pesquisas vêm demonstrando que indivíduos do sexo masculino de raça negra ou parda possuem maior suscetibilidade para seu desenvolvimento.

Questões socioeconômicas são intimamente relacionados à doença, sabe-se que em pessoas que vivem em condições de extrema pobreza, com ausência de escolaridade e/ou condições inadequadas de habitação, as chances de ser portador chegam a dobrar, levando em consideração fatores como aglomeração em uma mesma moradia e escassez de higiene.

As medidas de prevenção estão relacionadas ao sistema imunológico e condições de higiene, portanto hábitos saudáveis e higiene pessoal são a melhor forma para se prevenir a doença.

 

Sinais e sintomas

O surgimento de manchas brancas ou avermelhadas de limites imprecisos na pele, dolorosas ao tato e com alteração da sensibilidade térmica é um dos sintomas mais frequentes e deve servir de alerta para a investigação. Também é comum:

·         Presença de áreas com diminuição dos pelos e do suor e com sensação de choque ou formigamento;

·         Nódulos avermelhados e dolorosos;

·         Diminuição ou ausência de força muscular na face, mãos e pés;

·         Ressecamento nos olhos;

·         Ulcerações nos membros inferiores;

·         Febre, edema e dor nas articulações.

 

Classificações da Hanseníase

Devido às variações na resposta imunológica dos indivíduos, a hanseníase se manifesta de diversas formas e pode ser classificada em dois grupos principais e subclassificações.

·         Paucibacilar- Ausência ou presença de poucos bacilos nos exames, possui baixo potencial de transmissão. Possui dois subtipos que podem ser clinicamente identificados.

A)Hanseníase indeterminada: Até 5 manchas na pele, de contornos indefinidos e sem comprometimento neural

B)Hanseníase tuberculóide: Placas de até 5 lesões bem definidas com comprometimento de um nervo, podendo apresentar inflamação (neurite)

·         Multibacilar- presença de grande número de bacilos, com potencial de transmissão. Também apresenta dois subtipos:

A) Hanseníase borderline: Apresenta manchas e placas, acima de 5 lesões, podendo as bordas estarem pouco ou bem definidas, há comprometimento de dois ou mais nervos e ocorrência de quadros reacionais com frequência.

B) Hanseníase virchowiana: Forma disseminada e grave da doença, pode comprometer nariz, rins e órgãos reprodutores masculinos, também é comum a ocorrência de neurite e nódulos dolorosos na pele.

Mitos e Verdades sobre a Hanseníase

Em grande parte dos casos a hanseníase leva a óbito

Mito: Antigamente, a ausência de tratamento por conta do desconhecimento sobre a doença levava as pessoas a complicações clínicas que evoluíam a óbito, porém ao longo dos anos com o advento dos medicamentos, os pacientes têm um bom prognóstico.

 

Por ser uma doença contagiosa, os acometidos devem ser afastados do trabalho e do convívio social

Mito: Apesar da hanseníase ser umadoença contagiosa, na maioria das vezes, para que ocorra o contágio é necessário o contato muito próximo e prolongado com acometidos na forma transmissora, o contato esporádico apresenta risco insignificante de contágio. Outro fator importante é que após o início do tratamento a pessoa não transmite a doença podendo, portanto, manter sua vida social normalmente. É importante ressaltar que como qualquer outra doença infectocontagiosa, o paciente deve se dirigir aos serviços especializados e seguir as orientações médicas para controle da infecção e obtenção de melhores resultados no tratamento.

A hanseníase pode causar deformidades e perda de funções

Verdade: A doença compromete a pele e o sistema nervoso periférico, se não tratada pode levar à perda ou diminuição da força muscular e deformidades permanentes.

 

A hanseníase pode fazer com que as pontas dos dedos, nariz e lobo da orelha caiam

Mito: A hanseníase não causa diretamente a perda de um dedo, nariz ou orelha, como se os mesmos caíssem do corpo. Contudo, suas formas mais graves podem causar perda de sensibilidade nos membros e por o paciente não sentir dor, é possível a ocorrência de mutilações devido a lesões repetidas.

Outro fator importante é que os processos: infeccioso, inflamatório e de reparação fazem com que parte dos tecidos dessas regiões sejam absorvidas pelo organismo, mas ocorrem de maneira lenta e muitas vezes o paciente não percebe. Em outros tempos, esses pacientes ficavam isolados por muito tempo e quando alguém os via, depois de muitos anos, a absorção das cartilagens e deformidades eram tão grandes que acreditava-se que essas regiões tivessem "caído do corpo".

A hanseníase é uma doença que pode demorar bastante tempo para se manifestar

Verdade: O período de incubação pode chegar a até 5 anos, genética e condições imunológicas determinam a maneira como a doença se manifesta.

 

A hanseníase não tem cura

Mito: O tratamento da hanseníase é feito com coquetel de drogas (antibióticos), chamado de poliqimioterapia, e é extremamente eficaz.

 

A maioria das pessoas que tem contato com a bactéria causadora da hanseníase, não desenvolvem a doença

Verdade: Na maioria dos casos o sistema imunológico é capaz de combater a infecção. Mais de 90% das pessoas que entram em contato com a Mycobaterium leprae não desenvolvem a infecção

 

A hanseníase acomete apenas pessoas de baixa renda

Mito: Embora a possibilidade de contágio seja maior em meio a condições de vulnerabiidade social, a hanseníase pode se desenvolver em pessoas de qualquer classe social. Falta de higiene, aglomeração em moradias e sistema imunológico comprometido são fatores que favorecem a transmissão e desenvolvimento da doença.

 

Fatos curiosos

Lenda do “Papa-figo” - O “Papa-figo” é uma figura folclórica, conhecida principalmente na região do nordeste brasileiro. Segundo a lenda trata-se de um homem com deformações no corpo devido a uma doença rara que rapta crianças para sugar-lhes o sangue e comer seus fígados, na intenção de se curar. Essa doença relatada no conto folclórico é associada à hanseníase (a então lepra), reflexo da criação de estigmas sobre a doença e suas complicações.

Casas de Lázaro - No ano de 1714 foi criado em Recife o primeiro asilo para lázaros do Brasil, o qual anos depois foi transformado no Hospital de Lázaros, que permaneceu em funcionamento até o ano de 1941 e depois foi desativado devido à inauguração do leprosário federal de Pernambuco. O leprosário foi uma casa de tratamento onde o principal objetivo era excluir os pacientes do convívio social, pois como não eram conhecidos tratamentos nem medidas profiláticas para a doença, os acometidos eram obrigados por lei a ficar em confinamento. A legislação relacionada ao confinamento desses pacientes permitia inclusive a separação de crianças que eram geradas dentro das colônias de isolamento, as crianças eram enviadas para educandários e consideradas como órfãs, mesmo tendo seus pais vivos.

O termo “lázaro” foi atribuído aos pacientes leprosos em uma menção ao personagem bíblico pobre que possuía chagas por todo seu corpo, da parábola “O rico e o Lázaro”.

Tratamento

Geralmente são administrados vários tipos de antibióticos a longo prazo, o período do tratamento pode levar de 6 meses a 1 ano e em alguns casos são utilizados antibióticos de manutenção por toda a vida. A escolha dos fármacos varia de acordo com o tipo de hanseníase (a forma multibacilar requer antibióticos mais fortes em um maior período, comparada à forma paucibacilar).

Alguns dos princípios ativos utilizados no tratamento da doença, são: dapsona, rifampicina, clofazimina, ofloxacino e minociclina.

*O SUS disponibiliza tratamento gratuito aos pacientes, o qual pode ser feito em casa com supervisão periódica nas unidades básicas de saúde.

Diagnóstico

O diagnóstico inicial da hanseníase é clínico, por meio de exames dermatológicos que identificam lesões ou áreas da pele com comprometimento dos nervos periféricos e alteração da sensibilidade.

Exames como ultrassonografia e ressonância magnética podem ser auxiliares na identificação de lesões neurais.

Dentre os testes laboratoriais, o exame bacteriológico permite a avaliação morfológica e quantitativa dos bacilos e a sorologia identifica anticorpos anti-Mycobacterium leprae através de antígenos específicos da bactéria.

No estudo histopatológico, através de biópsias de pele, são feitas a identificação do bacilo por colorações específicas (geralmente Faraco-fite) e a avaliação do tecido, onde a lesão pode ser classificada de acordo com as características morfológicas e outros achados, como infiltrados celulares, granulomas e vasodilatações. O comprometimento neural pode ser diagnosticado através de biópsias de nervos cutâneos ou subcutâneos.

A Imuno-histoquímica é uma importante ferramenta diagnóstica para os casos de hanseníase inicial ou paucibacilar devido à sua maior sensibilidade em relação a outros métodos laboratoriais. Na técnica podem ser utilizados anticorposque reagem com proteínas, carboidratos e glicolipídeos do bacilo, anticorpos Anti-BCG (por apresentar reação cruzada com o M. leprae) e anticorpo antiproteína S-100, para evidenciação de nervos dérmicos.

O diagnóstico molecular por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR) detecta e quantifica o M. leprae através da amplificação de sequências do material genético bacilar. O método possui alta sensibilidade e é realizado através de espécimes de raspados da mucosa que apresenta a lesão.

 

Referências
 

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. SBD apoia Janeiro Roxo. Disponívelem: https://www.sbd.org.br/dermatologia/acoes-campanhas/campanha-contra-hanseniase/ Acessoem: jan 2021

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Hanseníase: o que é, causas, sinais e sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponívelem: https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/hanseniase.Acessoem: jan 2021

SOCIEDADE BRASILEIRA DE HANSENOLOGIA. Janeiro Roxo. Disponívelem: http://www.sbhansenologia.org.br/campanha/janeiro-roxo#:~:text=Em%202016%2C%20o%20Minist%C3%A9rio%20da,casos%2C%20atr%C3%A1s%20apenas%20da%20%C3%8Dndia.Acessoem: jan 2021

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Fonte: Diagnósticos do Brasil (Laboratório de Apoio)